algo incomum, mas não impossível de acontecer: concordar com alguém da família Bolsonaro. Nessa situação, infelizmente, o caso não envolve o presidente Jair Bolsonaro ou qualquer um dos filhos políticos dele. Trata-se da afirmação feita pela nora do presidente, Heloísa. Em resposta a um seguidor nas redes sociais, a mãe de Geórgia foi categórica ao garantir que vai vacinar a filha. Porém coroou esse ponto fora da curva no pensamento geral do clã: “Não sabia que existia um movimento antivacina, mas agora sabendo, só pode ser coisa de retardado”.

Heloísa está certa. E, por mais que tenha dito o óbvio, é preciso celebrar esse instante. Em meio a um universo de pessoas que sugerem que vacinas causam consequências graves na população, baseadas em informações falsas, uma centelha de consciência merece aplausos. Enquanto o mundo vive sob a sombra do novo coronavírus, o submundo das redes sociais insiste na tese de que há um complô de indústrias farmacêuticas para criar dependência de remédios após imunizantes causarem doenças.

É tão absurdo que, ao escrever, fico me perguntando como é possível existir quem pense assim. Esse movimento antivacina, nascido em países desenvolvidos, cujo acesso à saúde é melhor que no Brasil, foi importado pelo viralatismo local. Lá fora, esses grupos ganham força ao disseminarem informações falsas que circulam livremente sem a devida contestação. A lógica das fake news elevada ao extremo de colocar em risco a vida de outras pessoas.

O reforço desse argumento entre os brasileiros aconteceu em meio à discussão sobre as nacionalidades das vacinas contra o coronavírus. Após resultados promissores da Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria o Instituto Butantan, de São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro fez a ressureição do debate sobre obrigatoriedade do imunizante. Para além da sinofobia, há a briga por demarcação de território entre ele e o governador de São Paulo, João Doria, virtuais adversários na corrida pelo Planalto em 2022. Ou seja, um embate político se sobrepujando aos interesses da saúde da população.

Como nem todo mundo compra esse papo maroto de que as vacinas são um problema para a saúde pública – ou que a nacionalidade de origem dela vale mais do que a capacidade de imunização -, a maioria dos brasileiros aceita receber doses que garantam liberdade em tempos de distanciamento social contra o coronavírus. Tal qual Heloísa Bolsonaro, certíssima em garantir para Geórgia as vacinas corretas. Pena que elas não funcionem para evitar um eventual retardo mental em outras pessoas.

Por: Wender Lima.

Da redação do blog Tribuna de Palmira.

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