A ressaca das eleições de 2020 começou com o início do próximo ciclo, que se encerra daqui a dois anos. Após o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), falar pela primeira vez sobre a “possibilidade grande” de ser candidato a governador em 2022, o ex-governador Jaques Wagner (PT) voltou a reiterar que o nome dele está disponível caso isso garanta a unidade do grupo político que hoje comanda o Palácio de Ondina. É, até aqui, o rascunho mais preciso do embate eleitoral da próxima disputa na Bahia.
ACM Neto é candidato a governador e nem precisava ser tão explícito para saber. Após toda a pressão em 2018, ele deixou claro que estaria apenas adiando o projeto. Com as vitórias expressivas em colégios eleitorais importantes, a musculatura do gestor soteropolitano aumentou e o cacife dele para negociar apoios também. Caso consiga costurar um arco de alianças similar ao feito na sucessão em Salvador, o presidente nacional do DEM se consolida como o principal nome na corrida pelo governo em 2022. Afinal, é o único posto, ainda que extraoficialmente.
Isso não significa a inexistência de outros postulantes nessa disputa. É apenas a constatação de que, depois de permanecer no DEM enquanto tudo parecia naufragar, o partido não apenas ganhou sobrevida como se tornou um protagonista no processo eleitoral. Nacionalmente, o DEM é a namoradinha do “centrão” – alcunha eufemista do fisiologismo de muitas legendas. Na Bahia, é praticamente a sigla responsável por dar as cartas na oposição, apesar de fingir bem dividir as atenções com os aliados.
Wagner é um dos melhores quadros da base aliada de Rui. Foi governador por dois mandatos e é responsável direto pela construção das alianças que garantiram a eleição, a reeleição e a sustentação de Rui Costa no governo. No meio de um mandato de senador, o petista é também o que menos tem a perder. A favor dele, a boa avaliação do período em que esteve em Ondina, ainda que alguns percalços, a exemplo das greves de policiais e professores, possam retornar dos mortos.
Contra ele, pesa um fato que se repete no PT em diversos planos: a dificuldade em formar novos quadros, ainda que tenha havido esse esforço com a candidatura de Major Denice em Salvador. Mesmo que nomes como Éden Valadares, presidente estadual do PT, despontem no plano da articulação, os petistas têm problemas históricos em lançar novas figuras a tempo de torná-las competitivas para o pleito. Esse desgaste é natural e independe do próprio Wagner. Até aqui, não houve sinal de que há um sucessor para Rui sendo construído paulatinamente e o perfil centralizador do governador inclusive mostra um caminho diferente.
Com esse novo ciclo iniciado, as peças do tabuleiro político local começam a ser mexidas. É cedo para cravar se teremos esse embate entre ACM Neto e Wagner daqui a dois anos. Porém essa disputa parece a mais provável com o retrato do atual momento.
Por: Wender Lima.
Da redação do blog Tribuna de Palmira.